Já faz bastante tempo que as pessoas descobriram que, para bem viver, precisamos cuidar do corpo e da mente. Entre algumas civilizações, usava-se dizer que o segredo de uma boa vida era ter “mente sadia em corpo sadio”. Descobrimos, ao longo da história, que corpo e mente não são separados e funcionam como a unidade ou indivíduo que costumamos chamar de pessoa ou sujeito. Assim, a pessoa saudável cuida do corpo e da mente, ao mesmo tempo: para sorte nossa, ao cuidar do corpo ou da mente, estamos cuidando de ambos.
Para bem cuidar do corpo, é bom conhecer como é que ele funciona. Muitas ciências analisam o funcionamento do corpo e, a partir desses estudos, nos sugerem o que podemos fazer: cuidar da alimentação, fazer exercícios físicos, tomar vacina, ir ao dentista, ir ao médico, investir em saneamento básico e assim por diante. Quem mais entende disso, mesmo que não tenham estudado, são as mães. Por meio da tecnologia, chegamos a substituir algum membro ou órgão de nosso corpo que não esteja funcionado direito, mas nada e ninguém consegue substituir o colo da mãe.
Na linguagem do dia a dia, ligamos mente a cabeça ou cérebro: mente, cabeça e cérebro são palavras usadas como sinônimos — indicam a mesma ideia. Para bem cuidar da mente, é bom saber como é que o cérebro funciona. São as neurociências que pesquisam como é que o cérebro funciona. Elas já descobriram muita coisa e ainda deverão descobrir muito mais: tem vários grupos de pesquisadores trabalhando na caça da Inteligência Artificial e da Machine Learning (a máquina capaz de aprender). Esses cientistas têm muita coisa para nos ensinar. Talvez a grande lição trazida por eles seja a de que o cérebro só funciona porque ele mora em um corpo. Dito de outra maneira, a cabeça só funciona ligada ao corpo. Mesmo sem conhecer muito como funciona a cabeça, já tínhamos descoberto que ela é a grande comandante: o termo chefe tem origem na palavra cabeça.
O cérebro é cheio de neurônios. Cada neurônio é como uma pequena árvore, com grande número de raízes — os dendritos — e um tronco fino e todo torto — o axônio. O cérebro é uma floresta com bilhões dessas árvores. O estranho nessa floresta é que os galhos de cada árvore estabelecem bilhões de conexões — sinapses — com as raízes de milhares de outras árvores: é um emaranhado diferente de qualquer coisa que conhecemos. Alguns neurônios têm axônios curtos e outros têm axônios muito longos, que podem estender-se de um lado ao outro do cérebro. Se fossem esticados e ligados uns nos outros, os axônios formariam uma corda mágica que iria da Terra até a Lua.
A floresta cerebral, feita de neurônios, é cheia de eletricidade. As faíscas correm ao longo dos troncos das árvores e geram faíscas em árvores vizinhas. Se nós conseguíssemos óculos 3D que nos levassem para dentro do cérebro, ficaríamos encantados com tantas faíscas: parece com milhares de fogos de artifício que usamos para festejar. De vez em quando, poderíamos notar uma área inteira da floresta pegando fogo e, pouco depois, se acalmar. Quando você quer mexer com a mão para pegar um objeto, uma série de descargas elétricas — chamadas potenciais de ação — percorrem a medula espinhal e o braço, até alcançar os músculos da mão e fazer com que você pegue o objeto. Assim acontece com todas as nossas mexidas.
De onde vem a energia ou a eletricidade que acende o cérebro? A mesma “fiação” que leva as descargas elétricas do cérebro até as mãos serve para captar energia do objeto apalpado. A fiação é feita de nervos e os captadores de energia são os nossos sentidos, ou seja, o captador de energia é o nosso corpo. Em outras palavras, é o corpo todo que faz o cérebro acender. O cérebro em ação se parece com uma linda sinfonia de faíscas. Enquanto você admira uma pintura, por exemplo, as luzes que se acendem em seu cérebro iluminam bem mais do que todas as lâmpadas de uma cidade, por maior que seja.
O resultado de toda essa ativação de neurônios resulta naquilo que chamamos de inteligência e provoca o fenômeno que entendemos como consciência: é o que costumamos chamar de mente consciente. Tem muitos animais que são inteligentes; mas no mundo que conhecemos, só os humanos são conscientes. Essa ideia já é muito antiga e é traduzida na definição de homem como “o ser vivente capaz de falar”. Significa que os humanos são capazes de compreender que todas as coisas estão interligadas e que todos ajudamos a construir a história do universo. Significa, ainda, que os humanos conseguem dar voz ao universo. Deve ser por isso que tem cientista que diz que o cérebro humano é a “máquina universo”.
Ao olhar como funciona um neurônio, podemos descobrir algumas atividades que ajudam a fazer o cérebro brilhar, a fabricar uma “cabeça bem-feita” , a cultivar uma mente saudável. Dentre elas, podemos citar, como exemplo, tocar um instrumento musical, ler um livro, brincar, jogar futebol, meditar, cuidar da saúde, estudar outro idioma e dançar. Todas essas atividades mexem com os sentidos e trazem sensações: é a energia que ativa o cérebro, a cabeça, a mente. Se quisermos, podemos dizer que toda energia gasta com essas atividades (entropia) se transforma em energia que faz o cérebro brilhar (sintropia). Assim funciona nossa lâmpada mágica!!!
As raízes buscam no húmus os nutrientes que alimentam as árvores. De modo semelhante, os dendritos ou os sentidos buscam no mundo, na cultura, na ciência e na tecnologia os nutrientes que alimentam e revigoram o cérebro: é esse o solo onde o cérebro nasce, floresce e produz frutos: desse solo vem a energia que ilumina a mente e faz surgir cabeças bem-feitas. Dizem os entendidos que é nesse solo que se bebe a seiva do amor e da cooperação. Essa nossa condição humana nos permite entender que “não podemos separar a cabeça do corpo”, loucura que fizemos e continuamos a fazer ao longo de nossa história, em quase todos os espaços onde moramos.