Vão e voltam mensagens na rede social, criada pelos alunos da ESCOLA ASSON. A troca de ideias acende o interesse e deixa brotar o propósito de fazer um time, #unidosdeasson: deverá ser um time que represente a escola, terá uma camisa e precisará treinar para ser cada vez melhor. Lá está o time da escola em seu primeiro jogo: os jogadores vestem a camisa bordada de #unidosdeasson e lutam com garra e paixão; a torcida vai junto, em cada lance, no balanço da bandeira agitada… Veio a primeira de uma série de derrotas. Na live, após a partida, o capitão do time, em fala suada por todos, declara: “ Não foi desta vez! Vamos ter de treinar mais e, na próxima, vamos melhorar! Para nós o importante foi jogar! Foi muito bom escutar toda a torcida da escola, como se todo mundo estivesse dentro de campo… Valeu, pessoal!”.
Na torcida pelo sucesso desse novo time, continuamos a pensar a respeito da condição humana, sob a visão de nossa casa, nossa arena, um mundo em movimento e em permanente evolução, onde impera a lei segundo a qual “cada pessoa é responsável por todas” e, em consequência, “ou é um por todos e todos por um, ou não haverá jogo”. Para nos ajudar na reflexão sobre o que precisamos e o que podemos fazer no campo, começamos por pedir ajuda à ciência.
Considera-se a entropia um movimento que conduz ao desgaste natural e irreversível da energia de um sistema fechado. Esse desgaste tende a levar a energia a ser nula e, em consequência, a provocar a morte térmica do sistema. O contrário é negentropia ou negação de entropia, assim como negócio é o contrário de ócio ou, se quisermos, assim como negação é o contrário de ação. Em lugar de negentropia, vamos usar o termo sintropia, conceito que se apresenta como complemento e não como negação da entropia. Assim, entropia e sintropia coexistem no universo e funcionam como as margens de um rio: embora sejam opostas, cada uma das margens é necessária para formar o curso das águas.
Em uma organização humana, podemos considerar a entropia como energia que não se converte em trabalho ou jogo. A sintropia, por outro lado, é a energia que se converte em trabalho ou jogo. Funciona como uma lâmpada, se considerarmos que seu trabalho ou jogo é iluminar: quando ligada, parte da energia se perde como calor que esquenta o filamento; outra parte da energia se transforma em luminosidade. Usamos até a expressão “rendimento térmico” para dizer o quanto se perde e o quanto se ganha com uma lâmpada. No caso das empresas, falamos em “otimizar os serviços”, ou seja, obter o rendimento máximo com os esforços despendidos.
Para pensar nosso universo como um espaço aberto, vamos considerar entropia como energia gasta no interior de um espaço fechado e sintropia como energia que se espalha para fora e tende a inovar e a recriar. Sem abandonar as lentes da complexidade, vamos melhorar nosso poder de visão olhando os movimentos com tendências ao fechamento ou à abertura. Sob essa perspectiva, os movimentos de fechamento e abertura ou de conservação e inovação ou de morte e vida andam sempre juntos: lembram a flor que cede sua beleza e fragilidade, e murcha para que apareça o fruto em sua solidez e sabor.
Em grupos humanos, os movimentos surgem, seguindo a lógica da natureza: eles se postam como respostas a situações de desequilíbrio, de predomínio de uns sobre outros e, por vezes, de instabilidade ou de crise. É dentro desse caos que aparecem pequenos grupos com uma nova visão, com nova energia e portadores de nova proposta de organização. Analistas sociais dizem que esses grupos vivem um estado nascente, condição que faz brotar energias poderosas, capazes de levar a decisões e ações que recriam a sociedade e reorientam a história. É como estabelecer princípios e reorientar as ações para o nascimento de uma nova realidade. É como organizar o time da escola e inflamar uma torcida.
À semelhança do fogo, os movimentos começam com uma faísca que se alastra em chamas, capazes de tudo devorar. A faísca incendeia um pequeno grupo de gravetos e, daí, pode incendiar toda a mata. Os movimentos têm essa qualidade que alguns chamam de incendiária e outros de revolucionária. O movimento em grupos humanos começa com a participação de poucos: eles se sentem envolvidos, todos discutem, são ouvidos e o consenso emerge espontaneamente.
Contando com a generosidade de todos, cria-se o movimento, com um mínimo de organização. No início, é um ordenamento bem maleável, com mais pontos de referência de valores do que preceitos e leis a serem seguidos por todos. No movimento, busca-se valorar ou empoderar cada seguidor e, com isso, todo grupo de seguidores: é um grupo que começa a acreditar e, com isso, se dispõe a fazer coisas inacreditáveis. O grande ganho de um movimento é estabelecer uma direção, um horizonte rumo ao qual vale a pena caminhar.
O movimento se apresenta como alternativa à ordem estabelecida, ordem mantida pela lei e pela força legal. A ordem estabelecida teve origem em um movimento anterior, que conseguiu triunfar e se impor. O triunfo faz com que o movimento se transforme em instituição. Com a instituição, entra a repetição, a rotina, a burocracia, a norma, a hierarquia de poderes. Quando não consegue manter o movimento que busca melhorar a vida de cada uma e de todas as pessoas, sem exceção, a instituição, aos poucos vai perdendo calor e está condenada à morte térmica. É como o torcedor que carrega a bandeira do time e que, em dado momento, fica somente com o mastro, utilizado para espancar adversários.
A escola é resultado de um movimento ou de movimentos como, por exemplo, o movimento “todos pela educação”. Um pequeno grupo entusiasmado, guiado pela crença na educação como estratégia de formação e transformação de pessoas e da sociedade, funda a escola. Atraídos pela proposta, muitos investem e se envolvem na obra: criam-se espaços e formam-se equipes de trabalho. Organizam-se ações e instituem-se processos, tudo destinado à formação de pessoas por meio do trabalho escolar. Criam-se normas e ordenamentos a serem cumpridos por todos. Agora são pais, professores, funcionários e alunos, um imenso grupo energizado pela onda de “todos pela educação”. Dentro desse movimento, brotam muitos outros, concretizados em pequenos times, que abraçam a mesma causa: horizonte cada vez mais ampliado de inovação e renovação.
Um jovem se enamora de uma jovem. Acende-se uma faísca de maravilhamento e irrompe um universo de irradiação. Vivem um estado nascente. Surge um movimento de sentido de vida, de excelência e de experiência com atração extraordinária, flagrado por Machado de Assis, em seu Dom Casmurro: “Eu amava Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andavam, desandavam, estacavam, trêmulas e crentes de abarcar o mundo. Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie”. Mas esse movimento de encantamento, que tudo redefine e reorienta, não dura para sempre. Deságua no casamento que é a institucionalização do amor, com sua inevitável rotina.
Nosso desafio na escola ou na família é manter o espírito do movimento dentro da instituição. Alimentar o amor-escola ou amor-família com o entusiasmo da primeira faísca ou do enamoramento, superar a rotina com novas descobertas do mistério das pessoas com quem convivemos, nossos próximos que decidimos amar. Da energia suada no campo ou que gastamos nas rotinas do dia a dia da escola ou da família, brota a energia que acende a alma e vem calor que inflama a torcida. Cuidamos, dessa forma, de fazer nascer sempre um novo reencantamento, nosso modo humano e rotineiro de cultivar a arte de amar.
Ando devagar / Porque já tive pressa
E levo esse sorriso / Porque já chorei demaisHoje me sinto mais forte / Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza / De que muito pouco sei / Ou nada seiConhecer as manhas / E as manhãs
O sabor das massas / E das maçãsÉ preciso amor/ Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florirPenso que cumprir a vida / Seja simplesmente
Compreender a marcha / E ir tocando em frenteComo um velho boiadeiro / Levando a boiada
Eu vou tocando os dias / Pela longa estrada, eu vou / Estrada eu souConhecer as manhas / E as manhãs
O sabor das massas / E das maçãsÉ preciso amor/ Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florirTodo mundo ama um dia / Todo mundo chora
Um dia a gente chega / E no outro vai emboraCada um de nós compõe a sua história / Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz / E ser felizConhecer as manhas / E as manhãs
O sabor das massas / E das maçãsÉ preciso amor/ Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir / É preciso a chuva para florirAndo devagar / Porque já tive pressa
E levo esse sorriso / Porque já chorei demaisCada um de nós compõe a sua história / Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz / E ser feliz(Tocando em frente: Almir Sater/Renato Teixeira)