juntos somos mais

Ainda de pijama, esparramou pela sala as inúmeras peças de um Lego, tipo 3 em 1, brinquedo que trazia CREATOR escrito na caixa. Conforme as instruções, poderia construir um helicóptero ou uma lancha ou um pequeno avião. Nesse dia, queria voar! Precisou estudar o formato de cada peça, olhar com atenção as instruções e fazer várias tentativas, até chegar à aeronave imaginada.

As peças de um quebra-cabeça se apresentam separadamente. Cada uma delas tem as próprias características e qualidades. Ao examiná-las atentamente, quem procura montar o objeto é guiado por perguntas: O que posso montar com essas peças? Para que serve esta peça? Com qual ou quais se encaixa? … As respostas são concretizadas por meio de ações (encaixes das peças), todas elas feitas com o propósito de chegar ao mesmo endereço (o objeto pronto).

As muitas ações realizadas formam o que costumamos chamar de processo (todas se destinam à construção de um mesmo objeto). O objeto acabado, constituído por muitas peças, conserva as qualidades de cada peça e, ao mesmo tempo, dele emergem outras qualidades. Assim, por exemplo, quando construímos um avião, cada peça tem suas características; possivelmente, nenhuma delas seja capaz de voar a mil metros de altitude. No entanto, o avião, resultado da junção das peças, acrescenta a elas essa qualidade ou capacidade de voar nas alturas.

O pequeno engenheiro, ocupado na montagem de um Lego, pode nos ajudar na formulação de um dos saberes que precisamos desenvolver ao longo da vida, no processo de nossa formação ou educação como pessoas: aprender a complexidade. Tendo em vista o que faz o engenheiro, vamos considerar cada ação como partícula e o processo como onda. Podemos, também, considerar as ações como fotos (partículas) e o processo como filme (onda) ou, ainda, pensar nas palavras como partículas e na frase como onda.

Complexo é palavra de origem latina, feita de cum (junto com, em companhia de, com a ajuda de) e de plexum (tecido, entrelaçado, enlaçado). Complexo indica, pois, algo que tem mais de uma parte e significa o que é tecido junto. Essa tessitura aparece em todos os seres e fenômenos do Universo, o que nos possibilita afirmar que estamos mergulhados na complexidade, em um mundo feito de partículas entrelaçadas. Uma teoria da Física sinaliza essa condição quando sustenta que “tudo é partícula e tudo é onda”.

Interessados em pensar na visão de complexidade que precisamos incorporar, vamos examinar a condição humana sob essas lentes. Ao olhar para a humanidade, podemos distinguir os indivíduos (partículas) que, ligados, formam a sociedade (onda). Todo indivíduo carrega em si duas forças ou dimensões: uma (a dimensão partícula) é voltada para dentro, para a construção do particular, do próprio ou da propriedade, e outra (a dimensão onda) é voltada para fora, para a construção de relações, de agrupamentos ou de sociedade. Essas duas forças, presentes em cada indivíduo, comparecem em todo grupo humano e, por extensão, estão presentes em toda a sociedade. Assim, o ser humano carrega em si a complexidade: seu viver só se concretiza no conviver. Dito de outra forma, todo texto ou tecido humano acontece dentro de um contexto, um texto construído junto com outros.

Além das qualidades e capacidades individuais, emergem do tecido social muitas outras qualidades e capacidades coletivas, jamais suspeitadas. Explicitamos essa condição quando dizemos “Juntos somos mais!” ou quando defendemos a matemática da sinergia, segunda a qual “um mais um é bem mais do que dois” e, em outros termos, “o todo é muito mais do que a soma das partes”. Podemos pensar nos fios entrelaçados, uma porção de buracos que, dando-se as mãos, formam uma teia bem forte…

Aprendemos a complexidade à medida que incorporamos um pensamento capaz de ligar, contextualizar e globalizar. É o pensamento que: mostra que fazemos parte e nos move a gostar e, assim, nos sentirmos gostados; garante que somos seres entrelaçados com os seres e fenômenos do mundo e nos impulsiona para a solidariedade universal e, ainda, nos abre as portas para o cuidado de nós próprios, do planeta todo, de tudo e de todos com quem nele moramos. Temos possibilidade de contribuir para a aprendizagem da complexidade em todos os espaços que construímos ou frequentamos e por meio das múltiplas ações que neles implantamos. Podemos, por exemplo, abraçar uma árvore ou comer um pedaço de pão ou cumprimentar alguém, com o pensamento embrulhado de complexidade!

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