explorando a floresta

Em 1854, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce (1804–1869), fez uma oferta de compra de grande extensão de terra pertencente a índios. Em resposta, o chefe pele-vermelha, Seattle (1787–1866), enviou uma carta na qual faz várias considerações sobre a posse e uso da terra. Começa por agradecer a gentileza do grande chefe branco que lhe assegurava amizade e benevolência, embora não precisasse da amizade dos índios. Declara que vai pensar na oferta, pois sabe que, se não o fizer, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. Diz ainda que homem branco pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.

Vamos continuar nossa andança pela floresta, onde a sintropia foi buscar seu jeito de mexer com a vida. Seguimos acompanhados do Cacique Seattle. Da sintropia, ficou a lição: a Terra forma um imenso sistema vivo com uma cadeia de subsistemas vivos, uns contendo os outros. Cada ser possui sua identidade e sua autonomia: vem aparelhado para exercer suas tarefas ou funções e, ao mesmo tempo, está envolvido em uma teia de relações com os vizinhos e com todos os demais. Desse modo, a vida de cada ser está conectada à vida de todos os outros e, por sua vez, a vida de todos está ligada à vida da Terra. Estendendo a lição, podemos perceber a vida da Terra ligada à vida de todo o Universo.

Na carta do cacique, está escrito: “De uma coisa sabemos: a Terra não pertence ao homem. É o homem que pertence à Terra. Disto temos certeza. Todas as coisas estão interligadas como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. O que fere a Terra também fere os filhos e filhas da Terra. Não foi o homem que teceu a teia da vida: ele é meramente um fio dela. Tudo o que fizer à teia, a si mesmo fará.”

Como organismo vivo, a Terra está se expandindo, juntamente com todo o Universo, seguindo a dinâmica da vida: seu estado natural é a evolução e não a estabilidade; um processo de transformação e adaptação e não de imutabilidade e permanência. Razão tem Buda quando sugere que “a única coisa permanente é a mudança”. Se assim é, então a história humana está conectada à história da vida, da Terra e do Universo. Não escrevemos outra história, mas uma parte de uma única e mesma história, talvez em um nível mais complexo e mais consciente. Também, a ordem social não é uma ordem à parte: vem integrada numa ordem mais ampla, a ordem da vida, da Terra e do Cosmos.

Da sintropia aprendemos: as relações entre todas as espécies e entre todos os indivíduos de uma mesma espécie se baseiam no princípio incondicional de Amor e Cooperação. Confirmam esse princípio os biólogos chilenos, Humberto Maturana e Francisco Varela, em seu livro a Árvore do conhecimento: “Descartar o amor como fundamento biológico do social, assim como as implicações éticas do amor, seria negar tudo que nossa história de seres vivos, de mais de três bilhões de anos e meio de idade, nos legou… Só temos o mundo que criamos; só o amor nos permite criar esse mundo em comum.” Para esses cientistas, “amar é reconhecer o outro como legítimo outro”.

Na carta do cacique, está escrito: “Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteja-a como nós a protegíamos. Nunca te esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração — conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por Ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.”

Se é assim, então uma instituição humana — casa, escola, cidade, país, sociedade planetária — só funciona quando fundada no princípio incondicional de amor e cooperação. Sem isso, estaremos fora do radar da vida: o Deus em quem acreditamos não está acima de todos, mas anda junto conosco e nos faz andar; a sociedade planetária que pretendemos não está acima de tudo, porque só existirá, de fato, quando nela cada um e todos tiverem oportunidade — lugar, vez e voz. Nem mesmo homem branco pode mudar isso: nossa passagem pela vida ficará registrada pelos nossos rastros!

Na sintropia, aprendemos: a vida age de modo que todas as espécies que apareceram ou aparecerão ou estão vivendo no presente, todos e cada indivíduo de todas as gerações vêm equipados para cumprir suas tarefas ou seus papéis, movidos pelo prazer inato e funcional. Além disso, todas as espécies vêm equipadas para se comunicar, fazem parte de um grande organismo vivo, um imenso sistema inteligente. Se cuidarmos da terra, haverá abundância: ela é mesmo a boa terra que “jamais negou a quem trabalha o pão que mata a fome e o teto que agasalha”. É a Pacha Mama (Grande Mãe), nome dado pelos povos andinos à Terra, como suprema divindade geradora e regeneradora.

Na carta do cacique está escrito: “O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum — os animais, as árvores, o homem. O homem branco parece não perceber o ar que respira. … Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta.

Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos… Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós — os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.”

Moramos na terra e o que fazemos depende de nossa interação e ligação com a realidade que nos circunda. O mundo que construímos é sempre construído com os outros. Por isso, toda construção é uma cooperação e surge sempre de um ato coletivo de sinergia e de amor. Excluir alguém do mundo é fazer violência ao dinamismo da vida, que só se constrói por meio do jogo das interações e da criatividade: os seres humanos estão sempre entrelaçados e envolvidos uns nos outros.

Para conseguirmos praticar a agricultura sintrópica, para seguirmos o mapa do cacique ou construirmos uma instituição sintrópica, precisaremos operar uma mudança fundamental, uma mudança em nossa compreensão da vida.

Avisa homem branco: “Só depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto, o último rio envenenado, vocês irão perceber que o dinheiro não se come!”

“Habitue-se a ouvir a voz do seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo obstáculos que surgem na nossa estrada.

Não se vai acabar com a pobreza! Porém, a gente deve empregar todos os esforços possíveis para melhorar a situação. Miséria é falta de amor entre os homens.” (Irmã Dulce)

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