comecando pelo fim

– De que matéria você mais gosta? — perguntei a meu assessor mais novo.

– É de matemática! — respondeu-me, abrindo o sorriso esperto.

Possivelmente conheçamos colegas nossos que, nos tempos de escola, tinham certo horror de matemática, a matéria que mais reprovava estudantes. Até era comum nos dizerem que isso era normal e que matemática é mesmo um problema! Nem sabíamos, às vezes, porque inventaram que a matemática é uma disciplina básica!

Vamos aproveitar do meu entrevistado para melhorar um pouco a fama, nem sempre muito boa, dessa problemática disciplina, sua matéria preferida. Será uma boa oportunidade para ampliarmos nossa visão sobre percursos de aprendizagem.

A palavra matemática é feita de dois termos gregos: matemá, que significa organizar, conhecer, pensar; e tica, usada para dizer arte ou técnica. Da ligação desses dois pedaços vem matemática, usada para expressar a arte de pensar ou a técnica de conhecer, que são, essencialmente, a arte de organizar. Por desenvolver a arte de pensar, conhecer e organizar, um percurso de aprendizagem é matemático. Nossos aplicativos de base computacional são todos artefatos matemáticos. Que o digam os franceses que chamam computador de ordinateur (o que coloca em ordem, o que organiza).

A matemática tem a mania de viver de problemas. Podemos, mais uma vez, olhar o significado da palavra problema, um sinônimo de projeto: pro, usado por latinos e gregos, é usado para dizer o que está à frente; blema, preferido em Atenas, e jeto, usado em Roma, trazem a ideia de jogar, lançar. Desse modo, problema e projeto indicam algo que é lançado à nossa frente; no meio escolar, usa-se também objeto, palavra que tem o mesmo significado de problema ou projeto. Um percurso de aprendizagem é um projeto ou um problema.

Geralmente, um problema descreve uma situação, apresenta alguns dados pertinentes e termina, normalmente, com uma pergunta. É como se fosse um desafio colocado à nossa frente. Os entendidos na arte de resolver problemas dizem que “o indivíduo inteligente começa a resolver um problema pelo fim; o tolo termina no começo”. A pergunta serve como endereço que indica onde pretendemos chegar. Sob essa perspectiva, para resolver um problema, precisamos localizar a pergunta e andar atrás da resposta. Um roteiro de aprendizagem sempre parte de uma pergunta que serve de meta a ser perseguida. Para procurar respostas, traçamos um caminho.

Assim como existem muitos caminhos que nos conduzem a um mesmo endereço, existem muitas maneiras de buscar resolver um problema. Tal condição nos leva a perceber que cada pessoa tem seu jeito de se postar diante de um percurso de aprendizagem e essa maneira de encarar situações é o que nos caracteriza como seres pensantes. A multiplicidade de modos de olhar para uma questão nos sugere a existência de muitas soluções, sendo uma delas a constatação de que o problema não tem solução. Ao lado de quem é capaz de maravilhar-se com a paisagem, anda aquele que escolhe prestar atenção no caminho.

“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.” (Guimarães Rosa)

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